15/09/2021
Destaque na edição deste ano da Bienal, artista retrata colonialismo e diáspora africana

“Eu devolvo a pergunta. Por que me vêm esses corpos negros? Eles importam?”, questiona o artista plástico Arjan Martins, de 61 anos, assumindo o lugar que era deste repórter.

Inverter posições não é algo que ele faz só quando dá entrevistas. Destaque na Bienal de São Paulo deste ano, Martins joga luz sobre um grupo posto nas sombras pela arte canônica.

 

“A Europa eurocentrista não nos mostra corpos negros. Enquanto artista, é você que tem que mostrar para ela que esses corpos têm importância e magnitude”, diz ele, autor de telas que retratam negros em posições e lugares variados.

Seus retratados estão ora com o punho em riste, como se demonstrassem resistência, ora com a postura altiva e a expressão impassível. É uma ruptura com o modo como as artes plásticas costumavam retratar esse grupo, com registros que oscilavam entre o servilismo e a invisibilidade.

“Estou fazendo um deslocamento, algo que não é a subserviência. Essa posição não nos interessa. Queremos pessoas ocupando lugares, profissões, oportunidades. Quero que elas sejam agentes da economia e da vida intelectual. Talvez esse seja o meu maior esforço.”

Ao que tudo indica, a empreitada tem rendido bons frutos. Ele já apresentou trabalhos nas bienais de Dacar e de Montevidéu. Em 2017, levou para a Suíça a mostra individual “O Estrangeiro”. Em 2018, venceu o prêmio Pipa e embolsou R$ 130 mil.

Folha de S. Paulo; 14/09
https://bit.ly/2XjIVcd