18/12/2020

Fechar os olhos das crianças e estimular que “enxerguem” as letras com os outros sentidos sensoriais acelera o processo de alfabetização. O aprendizado é ainda mais eficaz e duradouro se elas dormirem após as atividades.

As descobertas são de um estudo feito por um grupo de pesquisadores ligado ao Laboratório de Memória, Sono e Sonhos, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e ao Cepid Neuromat (Centro de Pesquisa em Neuromatemática). As conclusões estão em um artigo publicado nesta quinta (17) na revista científica Current Biology.

O estudo, que tem entre seus autores o neurocientista Sidarta Ribeiro, fez um treino multissensorial em crianças de 5 a 7 anos de uma escola de Natal, a capital do Rio Grande do Norte, para tentar resolver uma confusão visual que o cérebro faz na identificação das letras e que prejudica o processo de alfabetização.

 

Com apenas três semanas de atividades, o treinamento conseguiu zerar a quantidade de erros que as crianças cometem no início da alfabetização e duplicar a velocidade de leitura. Entre os alunos em que foi testado dar um tempo de sono de duas horas após o treino, o conhecimento adquirido se manteve intacto após quatro meses.

Pesquisas anteriores já sugeriam que um mecanismo cerebral chamado de invariância em espelho impede a distinção entre imagens espelhadas. Apesar de os olhos enxergarem as imagens como diferentes, o cérebro as processa como sendo iguais.

Essa confusão visual atrapalha a alfabetização, já que a criança não consegue distinguir letras espelhadas, como d e b ou p e q. A dificuldade de distinção também alcança outras letras, por isso é comum os alunos nessa idade escreverem algumas delas ao contrário, como s e z.

O estudo foi feito com 102 crianças de uma escola de Natal, que foram distribuídas aleatoriamente em quatro grupos —dois deles de controle, um que fez apenas o treinamento multissensorial e outro que recebeu o treino e depois pôde dormir.

Com o treino, de atividades diárias de 30 minutos durante três semanas, foi verificado que era possível consertar a confusão visual. O treinamento consistia em vendar as crianças e apresentar as letras espelhadas a elas com outros estímulos.

Folha de S. Paulo; 17/12
http://bit.ly/3p4v69H