24/01/2023
BBC Brasil via Folha de S. Paulo, 23/01
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A possibilidade de criação de uma moeda comum de Brasil e Argentina para transações comerciais virou um dos principais assuntos da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao país vizinho nesta semana.“Decidimos avançar nas discussões sobre uma moeda sul-americana comum, que possa ser usada tanto para os fluxos financeiros como comerciais, reduzindo os custos operacionais e nossa vulnerabilidade externa”, afirma uma carta conjunta divulgada antes do encontro entre Lula e o presidente argentino, Alberto Fernández.Em discurso durante o encontro, Lula reforçou a ideia. “Por que não tentar criar uma moeda comum como se tentou entre os países dos Brics? Acho que, com o tempo, isso vai acontecer. E acho que é necessário que aconteça. Detalhes sobre o que será discutido —incluindo uma proposta brasileira de batizar a moeda de “sur” (sul)— foram publicados pelo jornal britânico Financial Times, que entrevistou o ministro argentino da Economia, Sergio Massa.

Muitas pessoas ao saber da notícia entenderam que Brasil e Argentina poderiam criar algo como o euro —uma moeda única entre as duas maiores economias da América do Sul que substituiria tanto o peso argentino como o real brasileiro. No entanto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, desmentiu a notícia ao desembarcar em Buenos Aires no domingo.

A moeda comum que os dois países estudam criar no futuro serviria apenas para facilitar transações comerciais sem a necessidade de recorrer ao dólar. Ela seria muito diferente do euro —que é uma moeda única que substituiu moedas nacionais em 20 dos 27 países da União Europeia.

Na verdade, a proposta em estudo entre Brasil e Argentina mais parece uma moeda virtual —que não substituiria as moedas nacionais.

MOEDA ‘COMUM’ – O dólar americano é hoje fundamental para a maioria das operações financeiras e comerciais no mundo. A moeda foi adotada como a reserva global de valor em 1944, dentro do Acordo de Bretton Woods.

Isso significa que muitos bancos centrais no mundo todo mantém parte da riqueza de seus governos em dólares. A cotação das moedas nacionais em relação ao dólar é fundamental para determinar o poder econômico de cada país.

Ao longo dos anos, houve esforços para se abandonar o dólar como principal moeda mundial. A China promove tratados bilaterais com diversos países para que as trocas comerciais sejam realizadas em iuan e na moeda nacional do país.

Em abril do ano passado, Haddad havia publicado junto com o economista Gabriel Galípolo um artigo na Folha em que propunha uma moeda comum não só para Brasil e Argentina como para toda a América do Sul.

Haddad e Galípolo defendem que a criação da moeda poderia ajudar países a protegerem sua soberania de possíveis sanções impostas por potências estrangeiras, sobretudo dos EUA, que estão no “topo da hierarquia mundial”, por terem o privilégio de poder emitir a moeda internacional.