09/06/2022

Engana-se quem pensa que o grito do Ipiranga resume todo o processo de independência do território brasileiro em 1822. Veja aqui essa história.

Como diz a historiadora Heloisa Starling, coordenadora do Projeto República (núcleo de pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG), essa independência “pacífica” e “consensual” foi construída sob a ótica de um projeto monarquista vitorioso que precisou garantir a unidade de um império emergente. “Para isso, [esse projeto] precisou apagar aquilo que significou o diferente, a discordância”, ela ressalta.

No intuito de retomar histórias muito pouco lembradas ao longo desses 200 anos, o recém-lançado site Itinerários Virtuais da Independência apresenta uma série de acontecimentos e movimentos que, nas primeiras décadas do século 19, consolidaram diferentes facetas das lutas pela liberdade no território brasileiro.

 

O projeto foi desenvolvido pela UFMG, por meio do Projeto República, em parceria com o Senado. Colaboraram ainda a PUC-Rio e a Associação Rio Memórias. Seu lançamento integra a agenda organizada pela comissão do Senado para celebrar o bicentenário da Independência.

“Existiu um ciclo revolucionário da Independência, com protagonismo dos povos originários em várias províncias e levantes de escravos”, conta Starling, professora do departamento de história da UFMG.

“Pense na batalha que ocorreu no Piauí, a Batalha do Jenipapo [deflagrada em março de 1823]. Foram 200 brasileiros mortos ali, a tiro de canhão. Nós não conhecemos essa história”, afirma. “A gente conhece pouco a importância da luta pela independência na Bahia. E os brasileiros que foram sufocados no porão de um navio, lá no Grão-Pará?”

Na sexta (3), foi lançada uma versão com dois percursos possíveis. Além da história das lutas pela independência nas províncias existentes à época, contada com o auxílio de imagens e outros recursos, o projeto também apresenta as outras independências na América Latina.

A proposta busca investigar de que modo os processos de emancipação da Argentina, da Colômbia e do Haiti, por exemplo, conversam com a realidade histórica brasileira.

Já estão disponíveis para navegação as narrativas das províncias do Maranhão, Pernambuco e São Pedro do Rio Grande do Sul. Fora do Brasil, o visitante também pode conhecer um pouco mais das lutas no Vice-Reino do Rio da Prata, região que englobava os territórios atuais da Argentina, Paraguai e Uruguai.

Folha de S. Paulo; 07/06
https://bit.ly/3MCWtTs