Para Daniel Cara, o ‘projeto’ para 2035 e a proposta que chega à Câmara prevendo mensalidade em universidades públicas mostram a falta de compromisso da caserna com o Brasil
Ao apresentarem seu ‘projeto de nação’ com projeções para o País até 2035, sob o bolsonarismo, os militares deixaram claro qual será a tônica pretendida para a Educação: ‘desideologizar’ a Educação Básica e o Ensino Superior.
Na visão do educador e cientista político, Daniel Cara, o documento dialoga com uma das principais estratégias da extrema direita – não só no Brasil, mas no mundo: a do diversionismo. “No caso da Educação, serve pra eles estabelecerem uma tática que é, o que eles criticam é exatamente aquilo que eles querem promover”, avalia.
“A única escola ideologizada no Brasil é a cívico-militar”, crava o especialista ao relembrar um episódio de 2017 em que estudantes de uma escola estadual de Manaus, gerida pela Polícia Militar [CMPM III – Escola Estadual Prof. Waldocke Fricke de Lyra], repetem um jogral ditado por um policial e chamam Bolsonaro de ‘salvação da nação’. “Se isso não é ideologização, eu não sei o que é”, critica.
Para o especialista, a mesma estratégia de inversão de discurso é utilizada pelos militares quando supõem atuar ’em defesa da pátria’. “Eles não têm nenhum compromisso nacional, o que eles estão promovendo no Amazonas, em relação ao SUS, às universidades, na prática, são processos de privatização que interessam ao capital internacional e não ao povo brasileiro”, completa.
Para além do documento, Cara observa que os militares já vem procurando formas de avançar com suas propostas, caso da PEC 206/2019, que propõe a cobrança de mensalidades por universidades públicas e é alvo de discussão nesta tarde pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados. O autor da proposta é o deputado General Peternelli (PSL-SP).
“Isso vai significar a elitização da universidade”, crava o especialista, que detalha: “Se você começa a cobrar mensalidade, você estabelece de maneira clara a relação aluno cliente e, dada a cultura brasileira, os que puderem pagar pelo serviço vão se sentir mais legítimos em relação àquele espaço do que os que não puderem pagar. Isso é um problema concreto em países como EUIA, Inglaterra, Escócia, os alunos beneficiados por programas de assistência estudantil são os que mais sofrem preconceitos”, acrescenta.
Carta Capital; 24/05
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