01/04/2022

Liderança de muitas gerações do movimento negro, Zélia Amador de Deus, 70, primeira reitora negra em universidade pública no Brasil segue sendo uma voz ativa no combate ao racismo e defesa dos direitos humanos no Norte do país. Um dos reconhecimentos que recebeu pela sua trajetória foi o Prêmio BrazilFoundation de Direitos Humanos, ONG de Nova York.

Além de docente da UFPA, a Universidade Federal do Pará, Zélia Amador também é atriz, fundadora do Centro de Defesa do Negro no Pará e integra a Coalizão Negra por Direitos – principal aglomeração de movimentos negros, como Instituto Marielle Franco, Conaq (Coordenação Nacional Quilombola) e Uneafro.

Em entrevista, a militante e intelectual revisita momentos-chave na luta antirracista e faz defesa entusiasmada da universidade pública e da política de cotas raciais.

Pergunta – A senhora participa dos debates sobre a importância das universidades públicas. Em razão disso, foi homenageada em Nova York e teve um documentário em curta-metragem, o Amador, Zélia – lançado em 2021, idealizado por Glauco Melo, com roteiro do jornalista paraense Ismael Machado. Que história é essa?

Resposta – Olha, eu sou Zélia Amador de Deus, militante do movimento negro e uma das fundadoras do Centro de Defesa do Negro do Pará, fundado há 41 anos. Também sou professora emérita da Universidade Federal do Pará, onde estou desde 1978. Na universidade, já ocupei cargos administrativos, fui chefe de departamento, diretora do Centro de Artes e vice-reitora, atualmente coordeno uma parte da Assessoria da Diversidade e Inclusão Social, um órgão ligado ao gabinete do reitor.

Sou resultado dessa oportunidade que a escola pública oferece, fiz mestrado na UFMG e doutorado na UFPA, então considero a escola pública de uma importância grande para a população negra no país. As universidades federais são capazes de mudar o destino dessas pessoas negras. Por isso luto pelas ações afirmativas, que obrigam a garantia de vagas para negros e indígenas na faculdade.

Pergunta – Como essas políticas de ações afirmativas podem ser melhoradas?

Resposta – Eu diria que a cota talvez seja a política mais eficiente que conseguimos construir para dar conta de combater discriminações, desigualdades. O mínimo que tínhamos, este governo acabou, solapou como a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. Sem orçamento, quais as possibilidades de fato desse órgão combater o racismo? Isso precisa ser levado em conta no Ministério da Economia, Saúde, no Ministério da Educação, política de moradia, em todas as áreas.

Folha de S. Paulo; 01/04
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